Pular para o conteúdo principal

Estórias do Acaso (I)


Continuamos no trilho da ideia sugerida por Rilke, lida num suplemento literário de um jornal nacional. Naquele dia retira-se em casa para fazer várias coisas: ler, escrever um pouco, enviar umas cartas, fazer o melhor que sabia fazer: esperar. Contudo, algum sentimento de impotência apoderava-se do seu espírito, mas sentia-se preparado para trabalhar. Se tivesse condições sairia do país, podia ser que as experiências anteriores no estrangeiro, ainda dentro da Europa, não fossem mais do que meras experiências. No entanto andava de carro, com a mãe no lugar do morto e a irmã grávida conduzindo, ele atrás pungindo a sua condição. A cena repetia-se sempre que ouvia a canção de Moby. No entanto, o melhor era continuar a caminha por meio da floresta dos enganos, arriscando o seu rosto em ser desfigurado, o corpo maltratado, mas teria fé que um dia chegaria a algum lugar, que teria alguma vitória. O silêncio dos outros calara-o, também não queria que meio mundo fizesse e desfizesse dele, Jonas não tinha grandes dons de oratória. Quando os podia ter desenvolvido não o fez e agora tudo o melhor que sabia fazer seria conversar. Conversa de café? Veríamos. Na verdade, se fosse outro, tinha, ainda falando dos tempos académicos, feito render a força física que mais ninguém tinha naquele âmbito, só que os outros estavam mais bem preparados para a tarefa sócio-antropológica, porque não aceitar isso? Os tempos agora eram felizmente outros. Jonas não queria ser especialista em nada, nem solicitado para dar opinião (talvez quisesse algures secretamente) mas ser um cidadão normal.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Testamento Filosófico

Amei. Por isso posso morrer e estar morto em paz. Morri aos poucos, em cada decepção. As justificação para o fracasso de não ter sido um prémio Nobel, um santo doutor da Igreja, um grande académico são muitas. Mas não vou falar delas aki. O que deixei neste terreno infértil que pisei: palavras, poucas as ditas, poucas as escritas. Queria ter ido mais longe, porém o sofrimento e uma personalidade estranha a mim mesmo com que me estranhava todos os dias me impediu. Talvez não tivesse tido o ambiente propício, mas a literatura, como a vida, não é uma batalha, por isso somos racionais. Amanhã estarei morto. Estarei fazendo chantagem? Que ficará de mim? Não me interessa, palavras. Pelos menos tenho a vívida impressão de que quis ser um deus, sempre foi o meu projecto, mas para isso teria de me ter adaptado. Escrevi desalmadamente durante anos. Sem freio e direcção. Onde cheguei? A um lugar de solidão que não sei será nos dias que correm castigo ou prémio. Entretanto, se tivesse forças, supr...