Pular para o conteúdo principal

De como os vivos sabem dos mortos (pré-publicação)



Primeiro Capítulo

De como a nossa personagem se dá conta da sua condição


Quanto a um certo sentido das coisas, o mundo corria à pressa, sem ter em conta os destinos individuais. Naquele tempo e naquele país não adiantava de nada fazer silêncio revoltado ou gritar a todo o instante dizendo que se era vítima de uma qualquer forma de justiça. Pelas oito da noite, após um dia de trabalho, Josué Calisto, preparava-se para ver o noticiário pela sua televisão, eis que é seu espanto ver anunciado a abrir o jornal a notícia de que Josué Calisto estaria morto. A partir daquele dia tentou provar por todos os meios possíveis e impossíveis que afinal estava vivo. A conta do banco foi cancelada, ficando o banco com o dinheiro, na verdade Josué não deixara para os seus familiares nada da fortuna pessoal que amealhara nos anos produtivos da sua existência. Num dia que mostrava o sol numa beleza cintilante, Josué procurava essa beleza incandescente para o seu espírito. Sonho pouco e dormiu menos ainda, procurando num cigarro a descrição a explicação para o que lhe aflorava ao espírito. Atordoado pela notícia que ouvira às oito da noite do dia anterior, Josué não sabia bem explicar o que sentia naquela época, talvez um misto de pensamentos incontroláveis e outros algo sensatos, mas como é apanágio de espíritos inquietos, o de Josué mais tinha de coisas inconvenientes pensadas, o que era incómodo bastante para fazer alguma coisa durante dia. De modo que rumou para a cidade capital deixando para trás a aldeia iluminada pelo sol da manhã, como um cenário retirado de uma película realista mas ao mesmo tempo idílica. No entanto, o concreto da vida de Josué não se alterara nos últimos tempos. Era um desses jovens com qualificações que se encontrava no meio o drama do desemprego. Por vezes não queria acreditar no que lhe estava acontecendo: depois de ter acabado uma licenciatura de rastos, se amigos para a vida, teve um recesso psicológico desses que não se compreendem bem por que acontecem mas que alguém sempre lhes dá uma explicação profissional. (continua)



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Pensarilho (4)

Estudar, insisto em estudar, em procurar nas palavras consolo e regra de vida, podia não ser assim, o meu conhecimento seria feito de experiência, mesmo assim não estou longe de tudo, pois como Drummond de Andrade, procuro a ode cristalina que não está nos dicionários.